A minha mãe esperou nove meses

Inacreditável a aventura que é subir de carro a Calçada do Combro, em Lisboa, percurso infindável que liga o Poço dos Negros ao Calhariz. Chegar ao Chiado vindo do Largo da Estrela parece uma efeméride se atendermos às mil e uma epopeias por que se passa. Desde os camiões de obras mal estacionados, aos eléctricos que a todo o segundo nos obrigam a parar, passando pelas criancinhas que da porta do colégio saem às quatro e às cinco para dentro dos carros dos pais, ainda se é insultado pelos grosseiros fornecedores de supermercados, cafés e mercearias se uso fizermos da busina! Como é possível alguém se achar no direito de estacionar no meio da estrada só "porque tem de descarregar"?!? Como nesta terra quem cala consente, não me resta nunca outra alternativa a não ser apitar. Apitar e apitar continuamente! Pressão psicológica que sempre acorda os condutores dos carros vizinhos e permite, finalmente, acabar com a paciência dos cabrões (não têm outro nome) dos transgressores. Um abuso que parece legal e que nos leva a insultos como este: "Tás a apitar pra quê?? A tua mãe esperou nove meses, pá!"...