Cortes de Vista feat Mónica Cortes

A modelo portuguesa Mónica Cortes (ex-Mónica Cortês) é hoje apresentada como "Consultora de Imagem" no programa 6teen da SIC Mulher. Intrigado com tal "upgrade", decidi ficar mais uns minutos no mesmo canal que interrompera o meu "zapping" matinal.

Mónica trazia diferentes "camiseiros" (e não camisas, como fez questão de insistir) como sugestão de "shopping" para as telespectadoras. Supostamente, para quem passa de modelo à categoria acima referida, seria de esperar uma descrição das peças que a própria "profissional" seleccionou para essa rubrica de moda e (se não fosse pedir muito) algumas sugestões de combinações de roupa e acessórios possíveis e, já agora, os motivos lógicos dessas escolhas e, quiçá, ainda a origem do nome e um pouco da história dessa criação. Lembro-me de mais outras: os preços de venda ao público, os locais de venda, enfim...

Para meu espanto, Mónica mal sabe articular as poucas palavras que conhece e tenta impingir as suas ideias sem oferecer nenhuma justificação natural para as mesmas. Basicamente, limitou-se a tirar "camiseiro" por "camiseiro" do charriot, referindo-se a cada um deles como artigos da sua máxima preferência (estranho seria se não fossem, tendo sido ela a elegê-los). Depois de inúmeros "este adoro", "este gosto muito" e "este é lindíssimo", passamos à fase de troca de impressões sobre as formas de conjugar os mesmos.

Confrontada com os gostos próprios das co-apresentadoras do programa (Joana Dias e Raquel Strada), Mónica Cortes apenas conhece quatro hipóteses, sendo duas delas da mesma cor: botas castanhas, saia castanha, calças de ganga e cachecol. Uma proibição: nunca vestir com casaco e/ou saia preta para não parecer executiva. Aflita com a transparência de um dos "camiseiros" que Mónica propôs, Joana questiona-a sobre a maneira de contornar a óbvia tendência de vulgaridade associada a quem a veste sem cuidados. Mónica conseguiu articular mais duas ou três palavras, para meu espanto: "top de alças" ou "soutien preto". Para quem não quer parecer ordinária, usando uma C-A-M-I-S-A transparente, pareceu-me totalmente adequada a última indicação.

Chegamos finalmente à parte em que Joana Dias (a única pessoa interessante e com dois dedos de testa presente) pergunta (e bem) a diferença entre "camisa" e "camiseiro". Perante uma questão tão pertinente, cuja resposta poderia salvar o programa, a consultora de imagem responde sem responder: "isto que tenho na mão é um camiseiro, camisa é o que tens vestido", apontando para Joana Dias. E o que tinha Joana vestido? Um pullover ou camisola com decote em v, como a própria confirmou ter vestido. Fiquei banzo. Mais banzo fiquei com o termo "senhorio" que Mónica Cortes começou a introduzir dali em diante para designação de outros "camiseiros". Mónica queria dizer que eram mais apropriados a senhoras e menos juvenis mas, rica em vocabulário que demonstra ser, recorria exclusivamente ao termo "senhorio". Achei fantástico e inovador.

Boquinhas à parte e tentativas de humor seco ao lado, Mónica detém igualmente uma faceta de beleza actualmente escondida, que parece conquistar as duas apresentadoras do 6teen de hoje... Com umas ancas descomunais e vestindo calças de ganga de cintura descaída, é alvo de sucessivos elogios pelas colegas que asseguram que os telespectadores teriam "caído pro lado" se tivessem visto Mónica chegar de uniforme da TAP ao estúdio. Na mesma rubrica de moda, recorde-se, ficámos por fim a saber que Cortes é hospedeira, acabou de chegar de viagem esta manhã e parte na manhã seguinte para Bruxelas. Por essa correria toda, não teve "tempo de pôr brincos", está cansada e chegou com "Al-zheimer": "dois amigos alemães" com quem voou para Lisboa ("o Al e o Zheimer" disse, tentanto mais uma piada seca). Informações preciosas para a audiência interessada em compreender as funcionalidades diversas dos ditos "camiseiros" ou "camisas".

Falou-se ainda da festa de anos de Raquel, estilo anos 80 onde, segundo a própria, a música de abertura será "Last night a DJ saved my life"... Eu acho que poderia ser também esse mesmo DJ a salvar-nos de programas pobres, fúteis e com gente oca como este e a dar trabalho a quem precisa. Podemos cortar em muita coisa, mas cortes de inteligência e visão como aqueles que Mónica Cortes seguramente está a passar (não se vendo ao espelho ou se enxergando, como dizem os brasileiros) são dispensáveis.

Legendas fotos:

a) Mónica Cortes é agenciada por DXL Models, de David Simões

b) A modelo e as transparências num desfile para João Rôlo e Eduardo Beauté, 2003